Entrevistas

VELVET DISCOS


Não lembro quem disse que no bairro do Tirol (Natal RN) havia uma loja de discos muito legal, que não era apenas um sebo e sim um lugar especializado em boa música. Minha primeira impressão da Velvet foi felicidade, de cara encontrei o primeiro disco do Pato Fu, disco lançado por um selo independente, aquilo alí já fez ganhar meu dia, minha semana. A Velvet Discos, enquanto viva, era o lugar mais bacana pra se encontrar música, o lugar mais bacana pra se bater um papo sobre música, arrisco dizer que era a loja de discos mais bacana que essa cidade já teve, sempre com preços justos. O Marcelo Morais foi o idealizador e proprietário da loja, sempre solícito e amigável, sempre disposto a negociar, a conversar, a dar dicas. Natal já teve um lugar assim, hospitaleiro, selecionado, limpo, lugar pra conhecer pessoas, conversar sobre música, pra se sentir bem, um lugar que nos dá muita saudades. Esse blogue só existe por haver essa saudade. A Velvet Discos era meu lugar preferido no planeta.

Bati um papo por e-mail com o Marcelo Morais, vamos ver o que ele tem a falar sobre os discos, a Velvet e a música:

Qual o disco que te abriu os olhos pra música e como foi esse desenvolvimento?


O disco que me abriu os olhos foi aquela coletânea vermelha dos Beatles, 1962-1966. Eu achava "From Me to You" fantástica, hoje eu acho horrorosa, prefiro mil vezes os Rolling Stones nessa fase, mas a partir desse disco virei fã dos Beatles, que puxou todo o resto, até porque fui conhecendo pessoas que gostavam de Beatles e outras bandas, que foram me abrindo a cabeça. Daí em diante foi só a curiosidade de conhecer mais e mais.

Cite um artista primordial para sua formação musical e explique a razão. 

Acho que os Beatles (banda), porque me despertou para todo o resto. Virei rato de sebo.


Você ainda mantém em casa uma coleção de discos? Se sim a que pé anda? Você ainda costuma comprar-los? 

Mantenho sim, embora tenha vendido uma boa parte para pagar as contas relacionadas ao fim da Velvet. Passei um tempo sem comprar e voltei recentemente, tentando refazer tudo novamente, mas não compro LPS não, prefiro os cds mesmo, que são mais práticos. Gosto muito também do MP3 pela praticidade, mas a qualidade de áudio é notadamente inferior.


Você acompanha a produção musical da Natal? O que anda ouvindo? Alguma coisa nova daqui ou de fora te faz a cabeça?


Tenho que ser sincero, atualmente não acompanho absolutamente nada de Natal, desconheço as bandas novas. Mas costumo escutar em casa os Bonnies, Bugs, The Automatics e os Poetas Elétricos. De fora tenho escutado Arctic Monkeys, Radiohead, The War On drugs, Bombay Bicycle Club, Dirty Beaches, The Black Angels, Florence and The Machine, Ghospoet, mas as bandas que tem me agradado de cabo a rabo mesmo são o Arctic Monkeys e Dungen, aliás, duas bandas que por sinal não tem nada a ver.


Cara, quando eu descobri a Velvet fiquei deslumbrado com aquele lugar, sua generosidade e simpatia eram mercadorias grátis que faziam os clientes se sentirem íntimos. No seu ponto de vista, como era essa relação entre você e os freqüentadores da loja? Você sente saudade desse convívio?


Sinto demais, Hélio. Uma das coisas que mais lamentei - e lamento ainda - com o fim da Velvet foi a perda desse convívio. Eu sempre me orgulhei de lá ser um lugar que muita gente legal, educada e de bom papo, frequentava.


Recentemente cogitei em chamar parceiros (não sócios) para criar um local onde convivessem um brechó, um bazar, um sebo de livros selecionados e discos, uma loja de acessórios, um espaço para pequenas apresentações musicais e exposições, mas é muito arriscado aqui em Natal. Acho que não seria necessário nem tanto investimento, mas não faço idéia de como seria, e se teria público para isso.



Como foi o inicio, o ponto de partida da velvet e como se deu o seu fim?


O ponto de partida para a Velvet foi o meu sonho em ter uma loja de discos. O início do fim se deu com a popularização da internet em banda larga e a banalização da pirataria. O fim mesmo se deu quando eu insisti em colocar um café para justamente atrair as pessoas que gostavam de música e de que repente não estivem mais consumindo tanto, para frequentarem pelo menos o café, mas o investimento foi alto e o retorno seria a longo prazo. Outro fator que atrapalhou ou pouco, foi o fato de terem proibido  estacionamento na Av. Hermes da Fonseca. Sim, outra coisa que pouca gente sabe é que mesmo aquele ponto sendo de meu pai, eu pagava aluguel (dobrado em função do ampliado) e não fui aliviado em nada, mesmo tendo investido uma grana preta. Isso foi o que me deu o maior desgosto.



O que você anda fazendo atualmente?


Eu me especializei na produção de ímãs de geladeira temáticos (filmes, música, publicidade antiga, e etc.) e vendo para vários estados do Brasil, tudo pela internet. Tenho também um blog voltado para a posse responsável de animais, o www.bichinhosprecisamdelar.blogspot.com e estou no twitter através do @adotenaocompre.

Último dia de funcionamento da Velvet Discos